Do Rolling Stone
Fosse uma revista voltada para o público masculino, o disco novo
do Volver seria um sucesso absoluto de vendas – Próxima Estação é recheado de musas e polêmicas. Ter
nomes de mulheres intitulando as canções não é algo novo na obra do grupo de
Recife. Mas, desta vez, o número de homenageadas triplicou. São elas uma mulher
de verdade, uma outra absolutamente fictícia e a terceira... bem, há
controvérsias.
A faixa que abre o trabalho se chama
“Marizabel”, “homenageia minha esposa”, conta à Rolling Stone Brasil o vocalista Bruno Souto. Já “Ana”
surgiu de forma curiosa: “É a personagem do conto Amor, da Clarice
Lispector. Por causa da música ‘Clarice’, que lançamos antes, me pediram uma
composição para um longa sobre a escritora. O filme ainda não saiu, está
empacado, mas pelo menos gravamos a música.”
Agora, a canção que mais chamou a
atenção é uma batizada de “Mallu”, garota que “quer ser mulher e não está para
brincadeira”. Mais ainda, ela “deseja um dia se casar ouvindo Bob Dylan no
altar”. Soa familiar, certo? Mas Bruno diz que a letra não fala exatamente da
Mallu autora de “Velha e Louca”, conforme todos imaginam. “A personagem da
música é mais narrativa. É uma coisa para brincar, deixa uma pista aqui, outra
ali. Mas também é para meninas-mulheres em geral, é sobre todo esse processo de
querer ser mulher, uma homenagem em geral”, garante.
O que será que Mallu achou de todas
as coincidências entre a letra e sua personalidade? “Não sei se é verdade, mas
conheci um produtor que trabalhava com ela e pedi para que ele mandasse a
música para Mallu. Segundo ele, ela ouviu e não gostou muito. Mas parece o
Marcelo Camelo [namorado da cantora] gostou e a
convenceu a gostar mais da música.”
“O universo feminino é muito
encantador e vivo. Isso de termos vários nomes de mulher é uma coisa natural,
não tem nada de forçar a barra”, explica. “Nada melhor do que uma mulher para
inspirar, né? Adoro essa ideia de musa.”
Mas a questão de Mallu,
potencialmente, não ter gostado da música que leva o nome dela não foi a
polêmica que fez o disco ser comentando amplamente, há algumas semanas. O
lançamento do clipe de “Mangue Beatle” fez explodir a ira de uma parcela dos
conterrâneos de Bruno. A faixa, segundo ele, é uma crítica ao fanatismo que
encontrava em Pernambuco com a música regional, algo que faz bandas locais que
não seguem essa linha, como o Volver, serem mal vistas.
Segue um trecho da letra: “Eu não
sou um caranguejo/ Pra você sou percevejo, então
Teu gosto é bem melhor/ Eu não sou salvação/ Sou playboy tipo burguês/ Fui pra
Londres canto em inglês então/ Teu desprezo é maior/ E eu vou na contramão/
Lembra o mague é todo teu/ Eu só quero incomodar/ Mais do que você pensa eu
sou/ Eu não quero mais viver/ Eu não consigo viver/Nessa lama com vocês”.
“Essa música já existia há certo
tempo, fazia parte de um projeto paralelo meu e estava no MySpace, algumas
pessoas já tinham escutado. Decidimos colocar no disco porque tem a ver com a
proposta do trabalho, em que falamos de mudança, saudade”, explica. “Muita
gente não entendeu, outros acharam que foi direto demais. A grande maioria que
não gostou é porque não entendeu, acha que estamos sendo contra o mangue beat.
Em nenhum momento a gente fala isso. A gente só diz que não é caranguejo.”
Bruno refuta as acusações de que fez
apenas uma crítica gratuita à música conterrânea. Ao contrário, afirma que fala
“desse tipo de patrulhamento, essa pressão de ser regional” com a propriedade
de quem passou por isso. “Muita gente veio elogiar a nossa coragem porque sente
isso, mas nunca falou nada. Fomos meio que porta-vozes dessa geração de
artistas que não faz nada regional. Aliás, o mangue beat serviu de
representação, mas [a letra] é sobre manifestação
regional como um todo. A ideia era ser muito bem humorado, uma piada de
pernambucano para pernambucano.”
No mais, Bruno define o disco como
“mais confessional”. “Dei mais minha cara a tapa, me expus”, conta ele sobre a
importância do trabalho na carreira do Volver. “Mas isso é uma impressão minha,
na verdade. De repente você pode pegar o disco anterior e achar que me expus
mais lá. Acho que é um disco [que mostra mais]
segurança”, pondera.
Volver a Recife
Falando em cara a tapa, o show de lançamento de Próxima Estação acontece em Recife, no próximo dia 16.
Mas não, a forte reação a “Mangue Beatle” em nada atrapalhou a grande
expectativa do grupo de tocar novamente em sua terra natal depois de mais de um
ano. “Estamos é ansiosos para matar a saudade!” E também não há exatamente uma
grande preocupação em serem recebidos com menos carinho do que o esperado – ou
até mesmo com vaias, ou algo do gênero. “É um evento fechado. Acho difícil
alguém pagar para ir lá xingar. Se fosse em algum lugar público, tinha grandes
chances. Mas a gente nem está pensando nisso. É de boa.”
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