Do A Tarde
Nascido sob a égide da luxúria – representado
pela liberdade com a qual os quadris se mexiam ao seu ritmo – o rock ‘n’ roll
veio ao mundo como a trilha sonora de um movimento de busca pela liberdade
individual, iniciado décadas antes pelos beatniks de Jack Kerouac e pela
“Geração Perdida” de Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald.
ZAPPA É QUE SABIA DAS COISAS - Tão importante quanto ouvir rock é conhece-lo a
fundo – entender por que um gênero musical simplório, surgido há mais de meio
século, sobreviveu (enquanto tantos outros desapareceram), se transformou e se
adaptou às décadas seguintes.
E mais: é importante saber por que o rock
extrapolou o âmbito da música e invadiu a vida das pessoas, se tornando um
ideal, uma ideia, um estilo de vida. Impregnou o cinema, namorou a literatura e as
artes em geral – e mudou a cara da cultura Ocidental, se espalhando pelo
planeta mais rápido do que uma praga de zumbis.
Além de uma discografia infinita aonde a música
em si está registrada, o caminho mais indicado para entender o rock – na
verdade, para entender qualquer coisa – está nos livros. Portanto, enfocamos alguns lançamentos recentes, além de
listar uma “biblioteca básica do rock” para neófitos.
Frank Zappa (1940-1993), um cara que sabia das
coisas – até por que era, na verdade, um erudito disfarçado de roqueiro – matou
a charada sobre a imprensa musical lá nos anos 1970, ao dizer que “a maior
parte do jornalismo de rock é feita por pessoas que não sabem escrever,
entrevistando pessoas que não sabem falar, para pessoas que não sabem ler”.
Isso significa que, bem, não se deve mesmo
acreditar (ou levar a sério) tudo o que se lê na imprensa musical. Mas, sim, há
grandes obras dedicadas ao gênero, escritas em diversos estilos, que vão desde
a biografia de artistas ao estudo acadêmico dos fenômenos sócio-culturais,
passando por romances, HQs e até livros infantis (afinal, o moleque diferentão
de hoje poderá ser o gênio do rock de amanhã).
PÁGINAS DA VIDA ROQUEIRA - No campo das biografias, uma que acaba de chegar
às prateleiras enfoca uma da maiores bandas de heay metal de todos os tempos: O
Reino Sangrento do Slayer (Ideal, 368 páginas, R$ 54,90), de Joel McIver (mesmo
autor de uma biografia do Black Sabbath, já lançada no Brasil pela editora
Madras).
Em segunda edição com capa dura, revisada e
atualizada com a recente morte do seu guitarrista Jeff Hanneman (aos 49 anos,
por cirrose, em 2 de maio último), o livro é item obrigatório na prateleira dos
apreciadores do true metal.
Elogiada pela crítica especializada, O Reino
Sangrento do Slayer não é uma biografia oficial da banda, mas é como se fosse:
McIver entrevistou todos os membros diversas vezes ao longo de vários anos e
seu texto cobre tanto a trajetória musical, quanto pessoal dos californianos.
Já Morte a Bono, de Neil McCormick (Martins
Fontes, 414 páginas, R$ 45), não é uma biografia do líder do U2, mas sim, a de
seu autor, um respeitado jornalista musical britânico, amigo de Bono desde
criança.
Por isso mesmo, Neil e Bono compartilharam
aquele importante período da adolescência inicial quando, juntos, descobriram o
rock e resolveram se tornar ricos e famosos na idade adulta. Como se sabe, só Bono atingiu este objetivo.
Dono de prosa ágil, engraçada e
autoirônica, McCormick conta sua trajetória paralela a acensão de Bono ao
estrelato mundial. Best-seller no Reino Unido, este livro rendeu uma adaptação
ao cinema em 2011, ainda inédita no Brasil.
Francamente biográfica é a HQ Amy Winehouse, de
Cristophe Goffette, Patrick Eudeline (roteiro) e do desenhista Javi Ferandez
(Conrad, 48 páginas, R$ 39). Primeiro volume da coleção Clube dos 27 (dedicada
aos roqueiros famosos que morreram aos 27 anos), é mais indicada aos fãs
completistas da cantora, já que não oferece nenhuma informação ou abordagem
que já não tenha sido alardeada pela mídia, desde sua trágica morte em
2011.
Dicas de Sexo de Astros do Rock, de Paul Miles
(Best-Seller, 272 páginas, R$ 39,90) é uma bobagem. Mais indicada para
adolescentes devido ao seu caráter educativo – especialmente quanto ao que não
fazer por aí – é uma série de depoimentos de astros mais ou menos famosos
sobre sexo e diversos assuntos correlatos divididos por tópicos: Roupas &
lingerie, Locais ousados, Aumentos & extensões, Divórcio e por aí vai.
Por último, mas não menos importante, é Rock
Para Pequenos: Um Livro Ilustrado Para Futuros Roqueiros, de Laura Macoriello e
Lucas Dutra (Ideal, 36 páginas, R$ 39,90).
"Fofo", apresenta bandas e artistas
clássicos do rock em linguagem infantil e desenhos bacanas, sempre com uma
mensagem edificante junto.
Por exemplo: na página sobre os Rolling Stones,
apresentados como “vovôs do rock”, o texto recomenda: “Devemos sempre respeitar
os mais velhos”!
Então, aumenta, que isso aí...
BIBLIOGRAFIA ROQUEIRA BÁSICA
Rock: O grito e o Mito
(1973, de Roberto Muggiati, Ed. Vozes). Um dos melhores estudos sobre a gênese e o fenômeno do rock escrito em qualquer língua, encontra-se criminosamente fora de catálogo. Alô, editoras!
Raízes do Rock
(2012, de Florent Mazzoleni, Cia. Editora Nacional), belíssimo estudo ilustrado das origens negras e brancas do rock
The Beatles - A Biografia
A Biografia (2012, de Bob Spitz, Ed. Larousse). O subtítulo e o número de páginas (1.800!) não deixam dúvidas. Fab Four? Este é O Livro.
Led Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra
(2009, de Mick Wall, Larousse). Talvez a melhor (entre muita outras) biografia de Page, Plant & Cia
Mate-me Por Favor
(1998, de Larry "Legs" McNeil e Gilliam McCain, L&PM) A história oral do punk nos Estados Unidos. Hilariante e hoje há quem o ache "ultrapassado" ou algo assim, mas ainda assim, recomendadíssimo
Dias de Luta
(2002, de Ricardo Alexandre, DBA). O melhor livro já escrito sobre o fenômeno do BRock dos anos 1980, relançado agora pela Ed. Arquipélago)
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