sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como confiar no indie rock

Do Obvious

“Haters” podem odiar, “hipsters” podem adorar, e fãs puristas podem considerá-lo o patinho feio do mundo da música. Mas, acredite, hoje o famigerado Indie Rock pode ser avaliado em mais do que simplesmente barulho de guitarras distorcidas feito por alguém que não sabe o que está fazendo. Pegue seus fones de ouvido, dê uma chance a esse estranho ser sonoro com este artigo, e você poderá ser agradavelmente surpreendido.

Você se lembra de quando, há muitos anos atrás, as bandas subiam no palco com visuais extravagantes e tocavam performaticamente por horas a fio com sons progressivos, intermináveis e complexos? Não, ninguém está sendo chamado de velho aqui, mas quem pesquisar um pouco mais sobre o assunto verá que é verdade. Naturalmente isso já dividia opiniões naquela época e fazia garotos revoltados combaterem tal espetacularização musical, empunhando instrumentos mesmo sem saber tocar, e meio sem querer revolucionando o mundo com três acordes. Bom, este é o nascimento do punk, certo? Então o que isso tem a ver com o Indie rock? Paciência: para confiar em algo, é necessário saber primeiro sua história.
Para muitos, pode ter sido o calor do momento como foi para Asia (entendedores entenderão), mas da filosofia do “faça você mesmo” que o rock anarquista criou surgiu outra cultura, a da produção independente. Onde? Reino Unido logicamente, com Buzzcocks em 1976 (sim, o Britpop é mais antigo do que se pode imaginar). Então foi questão de tempo até que bandas mais periféricas adotassem a ideia, seja pelo excesso de vontade, pela falta de talento, ou pela não aceitação - por não se enquadrar em nenhum estilo criado pelo público e pela crítica. E, fim. Divertido, não? Calma: agora, mesmo superficialmente, está explicada a história do Indie Rock. Então eis não um grande guia, mas um pequeno lembrete mostrando que ele pode ser legal.
Vamos aos motivos para dar uma chance à produção underground. Se você gosta de dançar, muitas bandas independentes fazem um ótimo trabalho com melodias cativantes e divertidas. Se você duvida, experimente ouvir algumas doses da talentosa banda Telekinesis, formada em 2009, liderada pelo baterista e vocalista Michael Benjamin Lerner, com bateria e guitarras marcantes e eventuais teclados embaladores. Ou, se preferir, volte alguns anos no tempo e descubra Say Hi, de 2002, que conta com riffs de guitarra realmente melódicos e agradáveis, que acabam por somar bastante ao vocal meio átono de Eric Elbogen.

Mas se o seu interesse é virtuosidade e elaboração intrincada de acordes, alegre-se, isso também existe no planeta indie. Basta lembrar-se das distorções de J. Mascis e sua voz melancólica do Dinosaur Jr, que veio agitar as estruturas da música em 1984, e continua com belas composições até hoje. Se por acaso achar muito barulhento, tudo bem. Provavelmente, foi pensando nisso que em 1999, no Canadá, Carl Newman criou The New Pornographers, que tratou da trazer ao mundo os espectadores com muita teoria e prática musical em todos os instrumentos, prezando pela pureza no som. E se não foi, ah, a banda é ótima assim mesmo.


Já se você for um tipo profundo, cuja preferência sonora envolva letras instigantes e reflexivas, existem, no mínimo, duas opções. Uma delas é Rilo Kiley, de 1999, que, comandada pela atriz e música Jenny Lewis, traz muito no que pensar com mensagens de experiências passadas e observações sobre sentimentos e sensações. Outra bela opção é ir direto para o Brooklin e ouvir Craig Finn entoar hinos meio cantados e meio falados como frontman de The Hold Steady, de 2004. Mesmo perdendo com a saída do tecladista Fran Nikolai, o grupo ainda traz em suas canções alguns dos pensamentos mais interessantes do novo século, incluindo uma visceral opinião sobre a natureza humana e a realidade das coisas.

Cansado? Justo agora? Sim, eis um grande momento que provavelmente quase todos estavam esperando: o já citado Britpop. Sendo famigerado como é, provavelmente é uma ligação lógica praticamente unânime quando se fala do underground. Mais do que os grupos mais populares, como The Kooks e The Arctic Monkeys, existem outras bandas notáveis. Por exemplo, o trio de irmãos da Inglaterra The Cribs anima o som independente desde 2002. Em 2003, surge One Night Only, um simpático quinteto de Hemsley. Já em 2006, outro trio começa seu repertório de grandes composições, o The Enemy. Não menos importante, no mesmo ano The Rifles traz mais um exemplo da boa música do Reino Unido.


E por último, mas longe de ser por fim, existe o paradoxal Indie Rock que não possui classificação dentro do próprio estilo. Entre eles, vindas diretamente da Suécia estão as meninas do Those Dancing Days, formadas em 2005 com uma identidade musical própria e inegavelmente original. No ano seguinte surge Fanfarlo, embalada por trompetes, poesias e um estilo muito particular. Estas pérolas podem ser consideradas sucessoras de pioneiros como o grupo Modest Mouse, que em 1993 também entraram neste curioso hall, com uma gama de instrumentos e melodias únicas.
E assim termina esta excursão e jornada quase espiritual. Lógico, este é apenas um arranhão na superfície do underground, mas pode ser considerado um bom começo, não? De qualquer forma, há muito mais o que citar e o que se descobrir musicalmente, não só no Indie Rock, mas em todos os bons gêneros. E não se esqueça: alheio aos gostos e preferências de cada um que ler este artigo, as bandas aqui citadas só refletem as características de um estilo, não quer dizer que sejam melhores ou piores. Se você for legal com o underground e mantiver os ouvidos e o coração abertos, poderá encontrar mais uma razão sonora para viver.

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